Sob
o meu olhar o céu estava limpo e tão azul de dar inveja ao mar. De nuvens
nenhum sinal e a brisa fresca convidou-me a relaxar. Deixei que meus olhos
descansassem e cochilei ao embalo da rede.
Acordei
com um forte estrondo e muita ventania. A luz do dia havia cedido lugar a uma
escuridão que não condizia com as 15horas marcadas no visor do meu celular.
Como podia em menos de uma hora a tranqüilidade dar lugar para enorme tumulto?
Papéis e folhas rodopiavam sem rumo, a copa das árvores fazendo flexão, curva-se
ao vento. A multidão agitada recolhendo seus pertences. Estalos de janelas
sendo abruptamente fechadas. Novo clarão anunciava que o estrondo não tardaria
a chegar. E que estrondo! Fez tremer o chão aos meus pés. Saio do meu cômodo posto
de observadora e agrego-me ao turbilhão de desnorteados quando percebo que a
tempestade não é ilusão de minha mente criativa.
Protegida
em abrigo seguro o corpo começa a relaxar e capta os murmúrios dos turistas. Em
uníssimo solo a queixa sobre caía no incômodo causado pela tempestade como se
as intempéries da natureza fossem subordinadas aos anseios turísticos. Com o
estalo do raio, fez-se um clarão em minha mente! Eis o que acontece em nossa
sociedade quando no ciclo vital se depara com as fases do desenvolvimento dos
seres humanos. Desenvolvimento “é a seqüência progressiva de mudanças de
estrutura, função e padrões de comportamento que ocorre durante o ciclo de vida
de um ser humano ou outro organismo”(Dicionário de Psicologia – APA). De tal
forma que desenvolver, move o sujeito para seu crescimento. O psicanalista Erik
Erikson em sua tese das fases psicossociais do desenvolvimento destaca
conflitos comumente existentes nos diversos estágios da vida que ocorrem desde
o nascimento até a terceira idade. E o que isto tem haver com a tempestade?
Bem,
a calmaria que antecedeu a tempestade reporta-se a fase de latência nos
conceitos freudianos. Esta fase, compreende aproximadamente a faixa etária
entre os 5 e 10 anos. É um período “em que os desejos sexuais das crianças são
reprimidos como uma defesa contra os perigosos sentimentos que eles evocam”
(COLE & COLE, 2003, p.728). Caracteriza-se pelas relações externas e pelo
gosto em aprender as habilidades que os adultos possuem. Vestem-se como os de
sua idade. Conhecimento intelectual, valores sociais e bens materiais passam a
ter mais importância. De modo geral é uma fase tranqüila, já possuem autonomia
e não despendem tanta energia dos pais para os cuidados básicos. Portanto,
calmaria que permite aos cuidadores certo relaxamento, tal qual meu cochilo na
rede...
Tempestuosa
pode ser a chegada da adolescência. Não por clichê, nem mesmo de forma única e
determinante, pois há suas exceções. Inesperada, pois o relaxamento permitiu o
descanso, e quando ocorre uma mudança, principalmente quando esta mudança nos
tira de uma zona de conforto, ela passa a ser vista negativamente.
A
adolescência por se caracterizar pela busca de uma nova identidade pode ser uma
fase cheia de questionamentos (lembra-se da tenra infância no período dos por
quês?). Padrões e regras são questionados e até mesmo criticados. A confusão
lhe é companheira, pois não recebe mais os benefícios de “ser criança”, mas
também ainda não pode usufruir do “ser adulto”. Vive o período transitório, a
começar pela mudança abrupta que lhe ocorre no corpo. Seus movimentos tendem a
ficar desajeitados, e a voz alterada, o humor oscila entre crises de raiva,
risos e choros exagerados (aos nossos olhos). Experimenta diversos papéis, se
questiona sobre o quem é, e o que quer ser; o quanto vale e qual a impressão
que nos causa. Estes conceitos vão aos poucos interiorizando. Facilmente se
opõe ao que lhes é sugerido e sua insatisfação pode ser constante. É uma
verdadeira tempestade!
Se
prestar bem atenção, pode-se perceber que tamanha “bagunça” é um movimento,
pois esta ocorrendo uma mudança, um desenvolvimento também conhecido por um
“vir a ser”. Esta busca constante de acertos apesar dos erros. O experimentar
para “testar” aquilo que foi normalizado, não difere muito da pequena infância.
O que chamamos de teimosia, pode ser um conferir se o “não” é realmente “não”
(momento em que muitos pais fraquejam). As discussões familiares marcada pelos
enfrentamentos podem ser uma verificação da lealdade do discurso familiar,
portanto, também demonstram que seu pensamento crítico esta em desenvolvimento.
Isto tem seu lado positivo, afinal, não queremos nossos jovens totalmente
alienados do racional, eles precisam desenvolver opinião critica, e para isto,
a casa é o seu primeiro laboratório, e os familiares... bem, suas cobaias. Mas,
se for para errar, que seja sob a proteção do ambiente familiar, pois se ali
não tiverem espaço, facilmente, vão fazer estes “experimentos” longe de casa.
Contar
com um vínculo familiar saudável, com acompanhamento, educação, valores sociais,
apoio e principalmente amor, permite ao adolescente uma tempestade menos
inesperada e possivelmente breve. Importa lembrar que a tempestade que eles
externalizam, é apenas uma fração do que lhes move internamente.
E
para servir de alento, como diz o conhecimento popular: “Após a tempestade vêm
dias serenos”.
COLE,
M; COLE, S.R. O desenvolvimento da criança e do adoelscente. 4.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
2 comentários:
O que teria sentido nas empestades,
O que seria sentido nos endavais...
Saber a gaivota quando passeia no azul,
Andorinha sabe no vento quando voa lá do sul.
Quando saíres da tempestade
Já não serás a mesma pessoa.
Entre as tormentas, na verdade,
Aprendemos no tempo, com a idade,
Que a vida tão leve soa.
Versar a chuva o seu papel
caindo toda do céu.
...trazendo à terra prosperidade.
Guilherme ótima a tua percepção sobre a tempestade.
Sim, passando há de vir prosperidade.
Se tomares um tempinho a mais e verificar o texto na integra que esta publicado no site da Viva Blush, veras a tempestade comparada com a fase da adolescencia.
Abraços e volte sempre!
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