"Há um momento em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (PESSOA, Fernando)

"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)

19 de out. de 2016

EMBOLADO


O que estava embolado, 
com muita paciência pode voltar ao aspecto original. 
Quantas vezes a nossa vida vira nó, 
dando vontade de passar a tesoura e começar tudo de novo. 
Mas a linha que enlaça os pesos da vida é a mesma que, 
quando cuidada pode dar sustentação e equilíbrio. 


Esta foi uma experiência vivenciada na prática dentro do setting terapêutico.
No primeiro contato do paciente com terapeuta, resulta neste embolar dos pêndulos, não obstante, estava este Ser de igual forma, com sua história "embolada". 
Quanto mais tentava "concertar" sozinho, mais emaranhado ficavam os fios e pêndulos.

Ao olhar o que se apresenta (pêndulos emaranhados), a primeira sensação que emerge é de que seria impossível recuperar a peça. 
Que os fios precisariam ser cortados, e a peça perderia sua originalidade. 
E como o que acontece dentro do setting terapêutico, toca diretamente na relação paciente-terapeuta, foi possível perceber, o quanto esta vida "emaranhada" e já des-confirmada pela Meio, estava frágil e vulnerável. 
Perdendo sua identidade, e numa busca desenfreada de sentir-se aceita, procura atender o que acredita que os outros esperam que faça.
O terapeuta, faz o cuidar. E pacientemente, preserva as linhas, movendo lenta e cuidadosamente as partes. Auxiliando na restauração do que sustenta a identidade. 
Acolhe, aceita, inclui, valida, fortalece.
Assim, terapeuta ao arrumar o objeto de pêndulos, simbolicamente se autoriza a desembolar a vida de seu paciente.

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