"Há um momento em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (PESSOA, Fernando)

"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)

11 de jan. de 2014

Cartas de Antonela Vancellote - I


E caminhando nas pedras verteram palavras a ela. 
Confusa sem saber ao certo o conteúdo de tanta dor, 
pôs-se a desenhar na areia as palavras do coração

Expresso:

Sinto falta do teu olhar sobre mim
um olhar que fala tudo.
Sinto falta da cumplicidade
aquela que nos aproxima nas situações difíceis da vida.
Sinto falta da tua mão estendida
nos momentos em que tropeço.
Sinto, sinto falta
do teu abraço que me acolhe e conforta quando estou em conflito.
Não te peço soluções, apenas apoio e segurança!
Sinto falta da conversa
que fala de tudo ao mesmo tempo.
E  na verdade, não é o conteúdo da fala,
mas sim a valorização do momento.
Sinto falta de conversar sério
e num segundo permitir o rompante de uma gargalhada.
Sinto falta da troca
partilha do que é simples e corriqueiro
tal qual uma música que envolve,
ou um desejo desperto.
Sinto falta de ouvir as coisas que são tuas.
Sinto falta de poder lhe contar os meus sonhos absurdos
e ouvir também os sonhos teus.
Sinto falta de sonhar juntos
tal qual caminhar em nuvens de algodão.
Sinto falta do riso que brota sem motivo algum.
Sinto falta de poder ser eu mesma
menina moleca que faz estrelinha na areia da praia
e ao mesmo tempo sentir-me mulher desejada.
Sinto falta de te surpreender
sabendo ser sincera a tua admiração.
Sinto falta de surpreendida por você.
Sinto falta de cozinhar contigo
e experimentar receitas novas
que terminam com farinha por todo lado.
Sinto falta de tocar você com ternura
porque tantas vezes o teu perto, era distante demais para mim.
Sinto falta de tuas mãos deslizando em meu corpo
com  firmeza e ternura propiciando o prazer a dois.
Sinto falta daquele que conheci
e a mim se mostrou apaixonado.
Sinto falta de elogio, bajulação,
fazendo-me sentir a pessoa mais importante para você.
Sinto falta de construir contigo.
Jogar um jogo em que não há perdedor
que a disputa seja apenas galanteio de provocações
e não diminuição de mim.
Sinto falta do teu cortejo  e sedução.
Sinto falta de ter para quem mostrar as minhas produções,
e receber  opinião  crítica.... construtiva.
Que teu ciúme não me sufoque nem me diminua,
mas lhe motive a me amar ainda mais.
Que minhas conquistas não lhe incomodem,
pelo contrário, te deixem orgulhoso.
Que no calor de uma discussão saibas respeitar meu espaço
E se rolar uma briga...
que esta termine com os corpos rolados ao chão extasiados de amor.
Sinto falta de poder te amar completo,
pois em fragmentos deixou meus sonhos.
Sinto falta de você, tão perto mas distante ao mesmo tempo!
Pela  última vez te peço: Conquista-me...
Não é ouro nem prata
basta-me o tesouro da tua atenção.
Permita que eu confie em ti novamente...

Abraços de quem não foi lida,
Antonela
1871
Texto elaborado por Mariane - tintadotinteiro - em jan/2014.
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