"Há um momento em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (PESSOA, Fernando)

"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)

20 de jun. de 2010

Duas Bailarinas Azuis



"O movimento do bailarino exprime muito mais do que a técnica didaticamente treinada. A expressão de cada músculo da face e do corpo exala um perfume que o olfato não distingue, somente absorve para ser decifrado pelo conjunto composto de sensações e sentimentos. Movimentos dóceis e frágeis, encobrem força e dor que não podem ser percebidos pelos pobres espectadores, mal sabem eles o que está por trás do que eles pensam enxergar... Se contentam com migalhas, quando na realidade o conteúdo de uma dança, extravasa o que os olhos podem ver, vai além do que os receptores sensoriais foram treinados a captar. Só assim, é possível compreender, viver a dança do corpo e dos movimentos. Indomáveis ao próprio ser, soltos para viver."


Texto produzido num passado recente, e partilhado com alguns colegas no presente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é... na vida muitas vezes somos assim, só mostramos uma parte de nós, enquanto isso... como você mesmo fala "mal sabem eles o que está por trás do que eles pensam enxergar..." assim também escondemos partes de nós para que apareça somente o belo, mas por dentro há muita dor, muito sofrimento, muita luta, coisas não tão belas (assim como os pés da bailarina)mas que são necessárias para alcançar o belo! A parte que não mostramos é o que nos constrói, é o que realmente somos, as vezes o belo que apresentamos pode ser somente uma máscara, apresentamos uma peça, um teatro, sem mostrar ao espectador a pessoa real que vive atraz da máscara!

Mariane disse...

Que bela reflexão amiga!
A dor encoberta pelo belo, o belo envolto na dor; sei bem o que queres dizer.
E no ensaio da dança, a nossa real construção,aquilo que a platéia não vê; faz pulsar a vida desencadeante.
Máscaras para não magoar, outrora para se defender.
Grande amiga, desvincilha-te das máscaras que te machucam e usa somente as que te fortalecem. Sê tu a Persona que te seja aprazível.

She disse...

Mari, minha querida, que coisa linda, confesso que voltei no tempo e lembrei das minhas aulas de ballet e jazz e vc descreveu muito bem, pois é um momento íntimo e pessoal que as "sensações sentidas" não extravasam totalmente para o gde público.... clap, clap, clap, clap (palmas) ficou lindo... agora tô indo ler a segunda parte... rsrs
Beijo, beijo!
She

Mariane disse...

Olá She, entre, sente e sinta...
Li certa vez que apenas quem teve a experiência que a vivência proporciona, é capaz de apreciar a plenitude da arte.Isto se dá no teatro, na dança, ou seja, em todos os contexto. É possível adentrar no mundo não visível e vivê-lo...