Vi no espelho, reflexo do que tão bem eu sabia esconder
agora, se fazendo exposto aos meus olhos.
Já não via as rachaduras, nem deformidades que lhe eram características da idade.
Eram minhas culpas, medos, máscaras de sorriso imaginário, prisão cerrada por minhas próprias chaves.
O espelho apenas refletia aquilo que eu me negava a ver,
e na recusa de uma vida enclausurada
quebrei-o
num rompante momento de vitória sobre minha própria morte.
... com toda força o quebrei, mas ao juntar seus pedaços espalhados ao chão, resvalo meus dedos sobre sua afiada fala. Corta-me, espelho, e deixo meu sangue escorrer entre os dedos, pingando ao meu lado.
Cá estou parada, fixando o reflexo do que era,
mesclado com o que sou.
Num aperto que se faz presente em mim,
não resisto a fuga novamente para dentro de ti espelho,
enevoado, quebrado...
Hoje, estou assim. Quebrada, machucada e sem forma.
E nesta "dis forma" me reformo, não para ficar enclausurada, mas para lançar-me para fora deste espelho.
Apenas na dor é possível alcançar a mudança, sair da zona de conforto que outrora era suportavel.
(MariAne)
Este texo faz parte do meu acevo, algo que escrevi no meu processo terapêutico, uma fase de revisão, relendo-o agora, percebo que ainda carrega muito sentimento. A escrita eclodiu após uma leitura que fiz, e assim formou-se texto.
Quando escrevo, nem tudo compreendo. Não o faço pela razão, assim algumas palavras me escapam pelas vias do inconsciente, e somente mais tarde é que delas tomo conhecimento. Desta lida, o que escrevi mesmo no passado, ainda para mim é desafio a ser revelado, relfetido como a imagem do espelho!