"Há um momento em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (PESSOA, Fernando)
"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)
"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)
21 de jun. de 2010
Torrão de barro
Os duros golpes sobre o torrão de argila, seguidos de movimentos vigorosos; fazem-no amaciar. Amenizam sua rigidez e permite-lo ser moldado, modelado.
As mãos hábeis do oleiro, seu criador, contornam suas partes, descartando o que não mais serve, incorporando o que falta.
E neste espaço as formas vão tomando jeito, expressões; por mutilação ou adição de massa. Os dedos sensíveis investigam as imperfeições; as espátulas perfuram, alisam... Faz parte do processo.
Quando o corpo toma forma, reluzente na imponência... resta-lhe a fornalha a sua frente. É preciso queimar,eliminar todas as impurezas. Arder até o escarlate da chama enraivecida cansar-se, esvair.
A queima o torna rígigo, forte, útil. Aquele que sobreviver a queima, sem trincas, nem quebras, pode ser aceito. Deixa-se perceber sua humildade, marcada pela perda física de volume, o que sempre acontece quando passa pela queima, marca para ser lembrada por toda a sua jornada.
Queimarei eu como a argila, para tornar-me forte...
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4 comentários:
Mariane, eu achei que já tinha queimado o suficiente... Mas acho que nunca serei forte o bastante. Quer saber? Isso é ótimo. Escudos impedem de sentir a vida. E que venha ela, estou de braços abertos. Dor não mata. O vazio, talvez sim.
Beijo, minha amiga. Teu blog está ficando show :)
Muito bom! chegar ao seu espaço pela primeira vez, e me deparar com um texto, como o que escreveste.Por sinal, reflexivo e sem dúvida nenhuma! maravilhoso.
Existem pessoas, que passam por processos dolorosos,pois estão como "vasos" nas mãos do oleiro, da mesma forma, como estamos nas mãos do Criador.Certamente uns passam pelo processo de transformação dolorosa. Acredito até que seja permissão do criador.(pq os amam)
Amassados,moldados,enfim,testados ao fogo... sairão fortes e, certamente bem preparados para vida.
Mariane, vou deixar aqui versos dos quais sempre os levo na memória, de antemão peço desculpas por escrever tanto.rs
"Tu és o oleiro, ó meu senhor,
Eu sou argila na tua mão
Vaso de honra e de louvor
Faz-me senhor com tua unção"
Manso e humilde faz me senhor
em tua forma quero sempre viver
Forte Abraço de Irlene
Renata, nossa vida é um modelar e queimar, lento e constante. E lembra-te, na fraqueza é que nos tornamos fortes!
Tuas palavras enriquecem este lugar.
Bem vinda Irlene, entre e se acomode.
Passa aqui mais vezes, para juntas modelarmos a argila do nosso pensar.
Complemento teus versos com a letra desta canção:
"Eu quero ser, Senhor amado
como um vaso nas mãos do oleiro,
Quebra a minha vida, e faze-a de novo,
Eu quero ser... um vaso novo".
Beijos
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