"Há um momento em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (PESSOA, Fernando)

"Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram. E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu." (PESSOA, Fernando)

15 de jul. de 2010

Milho de pipoca (Samuel)


"A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por qual devem passar os homens para que eles venham a ser quem devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele dever ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas.
Só que elas não percebem.
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser fogo de fora: perder um filho, o Pai , ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.
Sem fogo o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesmo. Ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: PUM! - e ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá que é o milho de pipoca que se recusa estourar.
São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A sua presunção e o medo são a dura casca de milho que não estoura.
O destino delas é triste.
Ficarão duras a vida inteira. 
Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém!
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo!


Passe pelas dificuldades, enfrente-as e saboreie a conquista dos que acreditaram e não desistiram. Ou seja um piruá deixado de lado.  Que seu propósito em ser melhor a cada dia, seja maior que a força que lhe atrai para o comodismo."(Samuel)
 
Recebi este texto mui generosamente e compartilho aqui, pois complementa em muito o que venho escrevendo  como  em Torrão de barro sobre as mudanças que assumi fazer em minha vida,  e descobri que sou um "estouro de pipoca"...

2 comentários:

Helcio Maia disse...

Melhor a meninice que a mesmice. Crianças buscam o novo, vasculham o desconhecido, não tropeçam no comodismo, se acomodam no telhado, para ver melhor.
Adultecer não tem nada a ver com rigidez, medo da vida. Ser adulto é ser criança há mais tempo.

Mariane disse...

Adulto sem rigidez... nem sempre é fácil assim. Mas penso que estou me permitindo amadurecer sem deixar de lado a criança que sempre morou em mim, e pouco a pouco retirando as cascas, me preparando para o estouro, assim como já falamos no texto Dialogando quando questiono o desabrochar de um botão.
Gostei da tua colocação Helcio Maia "ser adulto é ser criança há mais tempo", precisamos divulgar esta idéia!!!

Abraços